Ficção vs. Realidade: o que funciona e o que não funciona

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Oi, pessoas bonitas. Como têm passado?

Muito a gente vê em manuais de escrita ou livros sobre a arte de escrever "bem" que devemos seguir a realidade, observar como as pessoas se comportam, falam, pensam etc. e reproduzir isso em nossas histórias, não é?

Aí nas linhas seguintes a gente também observa que não é bem assim. Tem uma série de coisas que acontecem na realidade que não são bem aceitas na ficção (ao menos na grande maioria das histórias) ou até acontecem, mas de uma forma bem diferente quando colocamos no papel.

O post de hoje vai mostrar algumas coisas que acontecem com a gente todos os dias, mas que achamos bem sem graça quando lemos num livro. Pega uma lata de refri e vem.

 


# Mudanças bruscas de humor ou comportamento

Quem aqui nunca acordou bem, alegre e saltitante e, do nada ou por um motivo muito bobo e sem importância, ficou triste, mal e vendo o mundo em preto e branco? Ou mesmo o contrário?

Pois é. Mas imagine como seria na ficção. O personagem tá de boas, feliz e motivado a mudar o mundo, e do nada chega à conclusão de que vai dar merda e resolve não fazer nada. Ou está triste com alguma coisa e, por um motivo idiota, fica feliz e muda tudo.

Quando escrevemos um livro, uma fanfic ou uma original, aprendemos que temos que imitar a realidade, mas como imitações não são perfeitas, não há como ser tudo igual. Na ficção, tudo precisa ter um motivo, e dos bons. Caso contrário, vai ficar aquela sensação de que X coisa aconteceu só porque o autor quis.

 

# Ações sem maiores objetivos

Quantas vezes nós não fazemos as coisas simplesmente "porque sim"? Ou deixamos de fazer algo somente porque não estamos com vontade naquele momento?

Pois é, nos livros o ideal é que as ações dos personagens tenham importância, mesmo que não estejam ligadas diretamente com a trama principal. Claro que existem exceções, mas basicamente tudo o que não serve para mover a trama para a frente ou não tem como objetivo apresentar/aprofundar personagens, locais, enredo etc. tende a ser cortado.

Além disso, quanto mais fortes e verossímeis as motivações dos seus personagens, melhor. O leitor cria ligação com eles rapidamente e se interessa mais em continuar lendo.

 

# Mil pessoas apaixonadas por uma só

Seja na escola, na faculdade ou no trabalho, acho que todo mundo já teve notícia de alguém muito popular com um batalhão de gente interessada correndo atrás pelos mais diversos motivos.

Mas, ainda que aconteça aos montes em algumas histórias, na ficção todos nós também sabemos como isso fica forçado e maçante. Com duas pessoas interessadas, a trama ainda fica legal, deixa o suspense de quem determinado personagem pode vir a escolher (embora triângulos também já estejam clichês). Porém mais do que isso já fica estranho.

 

# Descrições detalhadas de coisas sem importância

Imagine que você acorda, levanta-se da cama, vai ao banheiro, escova os dentes e sai de casa para ir até a padaria da esquina tomar seu café da manhã. Seu objetivo é ir até lá para comprar sua refeição matinal, certo? Certo. Passemos adiante.
Aí no meio do caminho você vê uma flor vermelha com listas douradas e resolve levá-la para casa. Na volta, encontra seu vizinho e pergunta para ele se ele conhece, descobrindo que se trata de uma espécie rara de uma floresta distante de um lugar que você nem sabia que existia. Você volta para casa e a coloca ao lado do computador para pesquisar mais sobre ela depois.

E nunca mais o faz.

Pior ainda: a fucking florzinha não tem importância nenhuma na sua vida. Não fez nenhuma diferença você tê-la encontrado ou não.

Quantos livros não se tornam chatos e maçantes por terem subtramas completamente desnecessárias e/ou desconectadas do acontecimento principal do livro? Quantos objetos aparentemente importantes são deixados de lado e nunca mais são mencionados na história? Quantos personagens são abandonados e completamente esquecidos mesmo quando você podia jurar que fariam a diferença em algum ponto da trama?

Uma das primeiras coisas que aprendemos no mundo da escrita é que a história é mais concreta e mais interessante quando as coisas estão conectadas e/ou as subtramas contribuirão de alguma forma para desenvolvimento do enredo e/ou dos personagens.

De novo: se determinada cena não faz sentido, aparenta estar deslocada ou não avança com a história e não serve nem para desenvolver o personagem, talvez ela deva ser simplesmente cortada de sua história.

Não tenha medo, pratique o desapego. Se ela aparenta não fazer diferença, geralmente não fará mesmo. Corte sem dó. Seu texto ficará mais enxuto, coeso e coerente, ainda que lhe pareça menor em tamanho. Mesmo porque tamanho não é documento: no universo da escrita, menos é mais.

 

# Diálogos inúteis

Pare para pensar em quantos free talkers nós encontramos todos os dias. Desde os "opa, parece que vai chover hoje, né?" até os desconhecidos que chegam conversando qualquer coisa para a qual você não dá a mínima numa fila, sala de espera ou evento qualquer.

Agora imagine todos eles esmiuçados em livros: que tédio seria!

Mais uma vez, para ficar claro (repeti a mesma coisa 3 vezes num texto, já posso pedir música no Fantástico!): tudo o que está na história tem que ser relevante e mover a trama para a frente, sejam diálogos, descrições, trechos ou mesmo cenas inteiras. Afinal, é isso que mantém o leitor preso no que está lendo.

Então calcule o desafio de colocar todas essas coisas que não levam a lugar nenhum e ainda deixá-las interessantes. Sua história ficaria com umas 600 páginas, das quais nem metade é realmente importante.

A não ser que a possível chuva force o personagem a mudar de planos, nem que seja porque ele não ouviu a mãe e saiu de casa sem casaco e guarda-chuva. Nesse caso, pode ser bem interessante ver como ele vai se virar.

 


Lembrou de mais algum item? Ou já escreveu algo parecido que se encaixa em um desses? Deixa nos comentários. De repente, rola uma parte 2.

Espero que tenham curtido e vejo vocês em um próximo post.

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1 Comentários

  1. Eu gosto da coisa da mudança de humor. Detesto personagens enfadonhos, que aceitam totalmente a realidade, como se fossem personagens perfeitos, totalmente irreais. Acho que desde que haja a explicação pra essa mudança abrupta, por mim tá tudo bem.

    http://criptografandosonhos.blogspot.com.br/

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